Indígenas de todo o mundo questionam encaminhamentos da COP30

Indígenas de todo o mundo questionam os encaminhamentos da COP30, de Belém. O grupo internacional Caucus Global Indígena criticou o esboço das decisões da Conferência do Clima da ONU, divulgado nesta sexta-feira (21). Taily Terena, do povo Terena do Mato Grosso do Sul, representa os povos brasileiros nessa articulação mundial

Meio AmbienteRádio Agência Nacionalem 21 de Novembro, 2025 21h11m

Indígenas de todo o mundo questionam os encaminhamentos da COP30, de Belém. O grupo internacional Caucus Global Indígena criticou o esboço das decisões da Conferência do Clima da ONU, divulgado nesta sexta-feira (21).

Taily Terena, do povo Terena do Mato Grosso do Sul, representa os povos brasileiros nessa articulação mundial. Ela reclama da falta de diálogo entre a direção do evento e os povos indígenas:

“A gente tinha uma expectativa que o Brasil, tendo esse protagonismo na diplomacia mundial, tendo esse papel como o país que tem a maior região da Floresta Amazônica do mundo, esse reconhecimento que o Brasil tem uma diversidade com mais de 300 povos indígenas aqui no nosso país, não está sendo refletido. E de um ponto assim, que não só está sendo refletido no texto, como a gente não foi chamado para os diálogos com a presidência da COP.”

Taily defende também o financiamento direto para proteção das terras indígenas e questiona a criação de instrumentos que monetizam os territórios, como o Fundo Floresta Tropical para Sempre, o TFFF, uma iniciativa do governo Brasileiro.

"A natureza não devia estar sendo monetizada. Então, isso não é uma solução para nós. A gente vê aí o TFFF não como uma solução, mas como um grande problema. Justamente por isso, é a monetização da natureza, e um valor irrisório do que a gente tem feito de verdade. Então, falar que a gente vai ganhar 20% não é o suficiente se a gente poderia estar acessando esses fundos, primeiro, diretamente, porque se cria tantas condições, tantas regras, que, para nós, fica inacessível. Então, a gente queria que esse recurso chegasse diretamente para as nossas comunidades, sem ter tanto intermediador”, destaca.

A representante do povo Terena questiona ainda a falta de proteção das terras indígenas contra a mineração, principalmente para minerais chamados minerais críticos, fruto de intensa disputa geopolítica:

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"A questão da transição justa, a gente tem um parágrafo que está falando sobre os nossos direitos, mas a gente queria algo mais forte, falando sobre a exploração de minerais críticos, porque os nossos territórios estão sendo usados para essa exploração desses minerais, mas também a questão dessa transição energética, que também afeta os nossos territórios, com usinas hidrelétricas, a questão das usinas de vento também, né, e que não está muito claro no texto".

Mas Taily Terena reforça que, mesmo com essa falta de reconhecimento dos povos indígenas, a luta não termina com essa COP:

“A gente já sabe que tem algumas travas, a gente também não está na melhor situação na geopolítica, mas, uma coisa que eu aprendi com os nossos mais velhos é que a nossa luta não termina agora. A nossa luta termina quando o último cair. Enquanto isso, a gente vai estar lutando, a gente vai estar protestando, a gente vai estar conversando, dialogando, fazendo tudo que a gente pode fazer. Acho que foi muito importante o que aconteceu nas primeiras semanas, né, que foram essas manifestações dos nossos parentes, porque chacoalhou um pouco as estruturas daqui".

Maior participação da história

A 30ª Conferência sobre as Mudanças Climáticas da ONU, a COP30, realizada em Belém, no Pará, teve a maior participação de povos originários e comunidades tradicionais da história desses eventos. Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, mais de cinco mil indígenas estiveram presentes, sendo 900 na Zona Azul, a área de negociação oficial da conferência.

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